18 de abr. de 2013

Recife, uma cidade contra o pedestre


CIDADE// Mobilidade urbana tem sido renegada pelos gestores




Com o crescimento desenfreado e o caos urbano das grandes cidades, a mobilidade urbana vem ganhando espaço nos noticiários. Dentre os diversos profissionais que se dedicam ao tema, a jornalista Tânia Passos se destaca. Com a reportagem “Sinal Fechado” venceu o prêmio “Urbano de Jornalismo”, da Rota Mídia Exterior. Setorista de mobilidade urbana do Diário de Pernambuco, Tânia atua há 23 anos no jornalismo.  Aproveitando que a comunicadora esteve no dia 18 de Abril na Barros Melo para uma palestra aos alunos do 3° período de jornalismo. A equipe do “Alô Liberdade” conversou com ela e perguntou sobre suas visões e perspectivas para o futuro da mobilidade urbana no Recife:



Alô Liberdade: Nas suas publicações no blog: “mobilidade urbana” você prefere utilizar um tom opinativo ou apenas expositivo dos fatos?

Tânia Passos: Faço sempre uma mistura de ambos, busco sempre relatar o que as autoridades e os especialistas da área dizem sobre determinado tema, mas também faço uma análise de seus argumentos. Às vezes, muitas respostas são sem sentido, por isso é preciso mais do que expor, analisar o que foi dito. Algumas assessorias, como por exemplo, a da CTTU, insistiam em fornecer respostas totalmente sem nexo para os meus questionamentos. Com o tempo, minhas análises passaram a ridicularizar involuntariamente suas respostas, pois apresentavam argumentos bem embasados. O jornalista de um veículo impresso não pode nunca se limitar a apenas relatar um fato, pois o jornal impresso permite que o profissional possa se aprofundar mais em um determinado tema, ao contrário do que acontece em outros veículos, entre eles a televisão.


Alô Liberdade: Tânia, os leitores do blog “mobilidade urbana” costumam comentar sobre seus textos através do fórum e opinar nas enquetes promovidas pelo blog. Isso influencia no seu trabalho, algum leitor já pautou você?

Tânia Passos: Sim, fico feliz pelo meu blog ser muito acessado e receber muitos comentários, acredito que ele seja, de todos os blogs dos setoristas do Diário de Pernambuco, o que recebe mais comentários. Tenho um leitor em especial, de nome “Raimundo”, que comenta sempre. Eu não o conheço, mas ele comenta em todas as minhas postagens. Acredito que ele seja alguém com formação técnica em arquitetura e urbanismo, já que seus comentários são sempre muito coerentes e bem embasados. A minha matéria sobre o “corredor leste-oeste” foi feita graças a uma informação fornecida por ele em um de seus comentários e checada por mim. Às vezes, eu apenas digo o seguinte nos comentários: “É como Raimundo disse” (risos).  




Alô Liberdade: Quais as principais ações necessárias para que o Recife possa ter no futuro uma melhor mobilidade urbana? E em quanto tempo isso seria possível?

Tânia Passos: Não há como precisar ao certo o tempo para termos um “trânsito dos sonhos”, mas é certo que algum tipo de ação mais eficaz precisa ser iniciada. Acredito que essa ação seria a criação de uma engenharia de tráfego. Ela seria capaz de prever possíveis situações de acidente e apontar soluções. Isso não existe em Recife e Olinda. Por isso, quando há um acidente tudo fica parado. Para que vocês possam ter ideia do problema, a cada 15 minutos de trânsito parado o tempo estipulado para que ele volte ao normal é de 3 horas. Em São Paulo, cidade onde existe o serviço de engenharia de tráfego, o município dispõe até de um serviço que lava a via em caso de acidente que derrame óleo ou algo semelhante, já que isso pode ocasionar um acidente. Além disso, é importante ressaltar o fato de que as câmeras de monitoramento das vias estão instaladas em locais incorretos, como por exemplo, a da Agamenon, onde a câmera está situada na área próxima ao viaduto do Torreão, no entanto o principal “gargalo” da via é em frente ao hospital da Restauração.  


         Alô Liberdade: Como você observa a interferência de setores privados, entre eles construtoras e grupos econômicos específicos, em obras que dizem respeito a um interesse coletivo, que é o da mobilidade urbana? Sobre isso, você é a favor ou contra projetos como o “Novo Recife” e os “viadutos da Agamenon”?

              
                        Tânia Passos: Sou contra os dois, isso por analisar os empreendimentos do ponto de vista da mobilidade. No que se refere ao “Novo Recife”, não concordo com a ausência de comunicação, prevista no projeto, da área com vias como a Av. Sul e a Av. Dantas Barreto. Deveriam ser abertas no mínimo vias transversais para escoar o trânsito da localidade. Sem falar em uma possível destinação da área para utilização pública, algo que o Recife demanda bem mais. No caso dos viadutos da Agamenon Magalhães, acredito que eles serão uma das maiores agressões praticadas contra o Recife. O pedestre não é levado em consideração pelo projeto dos viadutos, não há nele espaço para a circulação de pessoas. Caso os viadutos sejam realmente construídos, nós teremos que utilizar longas passarelas e elevadores para nos locomover. Essa é a continuação da política de privilegiamento do carro, a exemplo do que ocorreu na Av. Domingos Ferreira, que tem oito faixas e teve seu canteiro central encurtado, dificultando assim a travessia dos pedestres. Poderíamos ter na Agamenon, por exemplo, uma requalificação e utilização do canal como locomoção. Por mais que exista uma faixa exclusiva para ônibus na via, precisamos lembrar que há nela oito cruzamentos não sincronizados. O sincronizamento ajudaria, mas não seria capaz de resolver o problema. Acredito que o governo neste momento recuou pelo fato de esse ser um assunto delicado e da obra demandar um grande planejamento logístico, algo difícil de ser feito às vésperas de uma copa do mundo. Passado esse momento, acho que o governo voltará a investir na ideia, já que para eles é mais conveniente atender a determinados interesses privados, do que planejar e executar um projeto sério a longo prazo. 
               
                 
           Entenda mais: Mobilidade Urbana

                 Matéria: Marina Moura e Domingos Sávio.
                 Fotos: Marina Moura e Divulgação.

        

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